Poema vencedor do concurso “Talentos Cativos” 2020 do nosso aluno do Estabelecimento Prisional de Aveiro

Poema vencedor do concurso “Talentos Cativos” 2020 do nosso aluno do Estabelecimento Prisional de Aveiro

Poema vencedor do concurso “Talentos Cativos” 2020 do nosso aluno do Estabelecimento Prisional de Aveiro 1920 1080 Agrupamento de Escolas de Aveiro

REFLEXOS

 

Quando olho para dentro

E tento encontrar-me,

Vejo-me sempre no centro

De muitos eus a rodear-me.

 

Como numa sala espelhada

A mesma imagem refletida,

Em cada segmento transformada

Como partes da minha vida.

 

Apaixonado, magoado, perdido,

Deslumbrado, feliz, assustado,

Amado, maravilhado, ferido,

Chocado, iludido, cansado.

 

Ao contrário duma ilusão

Em sala de espelhos de feira,

Estes refletem o que são

Partes da forma mais verdadeira.

 

Numa viagem profunda

Vou revendo essas imagens,

Sigo o leito do rio da vida,

Descendo-o pelas suas margens.

 

Vejo a árvore com seus galhos,

Aos quais sempre estive ligado,

Agora ao ver os seus espinhos

Sei porque sempre estava magoado.

 

Mesmo o pomar que semeei,

Pensando que com amor crescia,

E assim sempre o cuidei

Mas só isso não chegaria.

 

Mas continuei a acreditar,

Ternura, beleza, felicidade,

Energia que só o amor pode dar,

Minha fonte de vida e verdade.

 

Só isso teria eu para dar?

Por isso tantas vezes acreditei.

Ou seria o que tanto queria alcançar?

E as mesmas tantas vezes errei.

 

Dói-me a alma e o coração

Por sentimentos que desdenho,

Ferido pela destruição

Dos eu, meu, quero e tenho.

 

Fujo como animal ferido,

Fujo de todos e de mim.

Fico perdido. Estou perdido.

Será que esta fuga tem fim?

 

Cada vez mais primitivo,

Mais perto do natural,

Cada vez mais instintivo,

Mais perto de ser animal.

 

Porque é o instinto animal

Que nos guia na natureza,

O que nos leva a fazer mal

Está no racional com certeza.

 

Terei que esquecer, desaprender,

Para estar bem comigo?

Para encontrar-me terei que desaparecer,

Ou estarei para sempre perdido?

 

Terei que partir os espelhos

E ver o meu reflexo na água,

Na margem deste rio, de joelhos,

Para afogar esta mágoa?

 

Receber a paz e aceitar,

Só entre as pedras desta margem,

Só, aqui, é o meu lugar,

Reflexo puro da minha imagem.

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