Quero falar convosco pais, olhos nos olhos, ou neste caso, teclado nos olhos.
Isto não está fácil e sei que a ansiedade e o receio é real. Mas não pensem que estão sozinhos, nós professores também o sentimos e temos a cabeça cheia de dúvidas… Como será dar aulas com máscara? Como será que os alunos vão reagir a tanta regra e limitações? Como será conviver sem poder conviver?
Uma coisa vos garanto, e vou ousar falar em nome de mais de 100 mil professores. Vamos dar o nosso melhor! Porquê? Porque está no nosso ADN.
Provámos no passado recente que podem contar com os professores, que não deixamos os vossos filhos ao abandono e que queremos o melhor para eles. Acreditem mesmo nisso, mesmo quando criticamos e nos chateamos convosco ou com eles, é porque nos preocupamos realmente e acreditamos que o caminho precisa de ser outro, precisa de ser melhor.
Infelizmente tenho lido comentários depreciativos para todos aqueles que têm criticado ou mostrado as suas preocupações para com o início deste ano letivo. Cheguei ao ponto de ver comparações entre o número de mortos covid com os restantes mortos em Portugal, numa tentativa incompreensível de desvalorizar algo que “apenas” mudou a sociedade a uma escala mundial.
Afirmo com total convicção que nenhum professor quer voltar ao ensino à distância! É algo antinatural, além da carga de trabalho ser imensuravelmente superior. Acreditem que foi esgotante e sentimos que a aprendizagem ficou muito, mas mesmo muito aquém.
Se algum de vós pensa que existe um grupo de professores a torcer para que as escolas fechem é uma tremenda injustiça, além de roçar o insulto a toda uma classe profissional que bem ou mal, faz o melhor que pode e sabe.
O esforço das escolas tem sido incansável, direi mesmo notável, mas o medo está presente, pois quem lá está dentro sabe que vai ser quase impossível evitar o contágio. Estamos a falar de crianças e jovens que vivem, respiram, proximidade e cumplicidade.
Faltam professores, faltam funcionários, faltam salas de aula para separar os alunos, faltam espaços para que os alunos almocem e lanchem com as respetivas distâncias de segurança, falta muito… mas garanto-vos que nós não vamos faltar!
Por contingências do “diabo”, o ano letivo vai começar na pior altura. Os números de contágio que têm vindo a público são efetivamente preocupantes e temo que as próximas semanas multipliquem o número de casos e as juras no mínimo imprudentes de que as escolas não vão fechar, vão (naturalmente) cair por terra. Os peritos têm afirmado que uma 2ª vaga só será evitada se o contacto diminuir para 1/3, esqueçam, uma 2ª vaga está a chegar e vai chegar.
Fala-se muito nos professores de risco, mas pouco nos alunos de risco. Além disso, mesmo que os alunos não sejam de risco, o pai a mãe, o avô ou a avó podem ser de risco. Acredito por isso que vamos chegar ao ponto do encarregado de educação ter de tomar a decisão de deixar ou não o seu educando ir para a escola. Alguém vos irá criticar? Alguém fará essa ousadia? Eu não seguramente, até porque também sou pai…
Não se trata de uma mera birra de “Cidadania”, trata-se da saúde de cada um, do cumprimento do instinto mais básico de qualquer progenitor. Como se irá resolver a situação ao nível de faltas? Não faço a menor ideia, mas é algo que deve começar a ser pensado…
Dizemos presente, estaremos presentes! Sempre que é preciso damos a cara e assim continuará a ser, pelos nossos alunos e também por vós que no passado recente foram excecionais no apoio que deram às escolas.
Mas não nos peçam para ser milagreiros… faltam condições, falta a implementação de um ensino misto em detrimento desta “aventura” que é mandar todos os alunos para as escolas, e falta maturidade e consciência cívica a muitos dos nossos alunos, vossos filhos.
Resta por isso pedir-vos que falem com eles, que os protejam e que nos ajudem nesta árdua tarefa. Estamos todos no mesmo barco, com funções diferentes, mas juntos, sempre juntos.
Boa sorte a todos, pois a sorte também faz parte da vida, ainda para mais quando o “inimigo” é silencioso e invisível.
Com calma, com responsabilidade, vamos viver um dia de cada vez.
Bom ano letivo! 😉
BOM ANO NOVO!
Alexandre Henriques
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