A extração do lítio tem sido um assunto de grande discussão nos últimos anos, por ser uma boa alternativa aos combustíveis fósseis, permitindo a redução das emissões de CO2. No entanto, este metal não traz só benefícios para o ambiente. Será que vale a pena investir no lítio?
O lítio é um metal alcalino que, sob condições normais de pressão e temperatura, é o metal mais leve e menos denso dos elementos sólidos. Apresenta elevada reatividade, sendo facilmente corroído em contacto com o ar atmosférico, por isso, é normalmente encontrado na forma de composto iónico. O lítio tem elevado potencial de redução, o que faz dele um bom ânodo, sendo ideal para construção de pilhas.
Este metal apresenta diversas aplicações a nível industrial, como, por exemplo, na indústria vidreira e cerâmica, em ligas metálicas utilizadas na construção de aeronaves e em baterias de lítio e de ião lítio, muito utilizadas em computadores e telemóveis.
A exploração do lítio apresenta diversas vantagens a nível socioeconómico, mas também muitas desvantagens a nível ambiental. As aplicações deste metal permitem a grande produção e comercialização de produtos do mesmo, o que leva ao aumento do comércio, contribuindo para a produção de uma ampla gama de bens transacionáveis. Exemplos disso são países como o Chile, a Bolívia, a Argentina e a China que têm grandes reservas de lítio, usando-as a seu favor e de modo a contribuir para a economia do país. A China deu especial prioridade à fabricação de veículos elétricos em 2015, fabricando hoje em dia cerca de 10 mil carros elétricos por mês, todos com baterias de lítio.
Outra vantagem a nível socioeconómico é o aumento das exportações e postos de trabalho e o consequente lucro, associado à sua extração. Portugal, considerado o oitavo país do mundo com as maiores reservas de lítio e o maior da Europa, tem grande potencial no que toca a uma futura exploração deste metal. O relatório elaborado pela Universidade do Minho e divulgado a 27 de julho de 2020 prevê que a produção de concentrado de espodumena (mineral de onde será extraído o lítio) “poderá contribuir com 110,2 milhões de euros em média, para as exportações nacionais, todos os anos, contabilizando 1.212 milhões de euros ao final dos 12 anos de concessão” da Mina do Barroso. É também esperada a criação de centenas de postos de trabalhos diretos e prevista a criação de 1300 indiretos no decorrer dos 12 anos do projeto.
Já a nível ambiental, infelizmente, a exploração do lítio acarreta muitos aspetos negativos. Este assunto foi abordado num webinar organizado pelo GEOTA, a 7 de dezembro de 2020, onde foram referidas diversas consequências, tais como a utilização de solos florestais e agrícolas para extração deste metal, contaminação dos solos por derrames de combustíveis e deposição de resíduos. A escavação altera o normal escoamento das linhas de água, interfere nos circuitos hidráulicos subsuperficiais e no rebaixamento de poços e captações, afetando a qualidade das águas pela infiltração e percolação de derrames de combustíveis e óleos e levando à acumulação de resíduos industriais. Atualmente, apenas 3% das baterias e menos de 1% do lítio são reciclados a nível global.
Na verdade, são visíveis os efeitos da poluição da exploração do lítio no Tibete, país rico em lítio. No rio Lichu, em 2016, a libertação de resíduos provenientes da extração do metal, por parte de uma empresa chinesa, levou à morte de centenas de peixes. Tal foi consequência do aumento da concentração de nitratos e posterior diminuição do pH da água tornando as condições do meio aquático inabitáveis. Nos últimos anos, a extração do lítio foi se tornando cada vez mais intensiva, levando à organização de protestos em países com grandes reservas de lítio, como a Sérvia e Portugal, para tentar impedir a abertura de minas.
Em Portugal também existe descontentamento face à problemática da extração do lítio e os consequentes prejuízos. De acordo com uma notícia publicada pelo Diário de Notícias, a Galp e uma empresa sueca, a Northvolt, anunciaram planos, com a aprovação do governo PS, de um investimento de 700 milhões de euros numa operação de mineração em grande escala que é suposto começar em 2025. Alguns partidos como o PAN, a população e ambientalistas mostraram desagrado relativamente a este projeto. A associação ambientalista Zero afirma que a avaliação ambiental do lítio é insuficiente na análise dos impactos sobre os valores naturais.
Com base em tudo isto, acreditamos que a extração do lítio pode ser muito benéfica para o desenvolvimento da economia dos países e das respetivas populações, pois promove a criação de postos de trabalho e o comércio internacional. Contudo, também admitimos que todas as repercussões a nível ambiental da indevida exploração deste metal criam muitos problemas às comunidades e aos ecossistemas. Não podíamos estar mais de acordo com o ministro do ambiente português, João Matos Fernandes, que disse que “A exploração do lítio é um caminho inevitável. (…) Mostrem-me alguma exploração exemplar mineira em Portugal ou na Europa. Tenho muito poucos exemplos para dar. Tenho de ter essa humildade.”.
Concluindo, o lítio é um recurso muito necessário nos dias de hoje, pois é uma possível solução para uma das maiores crises climáticas. Percebemos que isto seja uma questão muito problemática, pois traz tanto soluções como problemas. No entanto, acreditamos que, com toda a tecnologia existente atualmente e com a boa vontade dos governos e empresas, seja possível que a exploração do lítio seja feita de modo sustentável e que isto se alcance num futuro próximo, não esquecendo também a importância da reciclagem de, por exemplo, as baterias de lítio.
Autoras: Ana Valente*, Helena Navarro*, Mariana Santos*
* Estudante do 12º B (opção de Química) da Escola Secundária Homem Cristo